segunda-feira, 26 de abril de 2010

Mitologia e semiologia

Tal como a psicanálise, a mitologia pode ser definida a partir de seu interesse especial pela fala. Inclusive pode ser compreendida como parte da ciência semiológica.
A semiologia, requerida por Ferdinand Saussure, nos ensina a relacionar três termos de ordens diferentes: o significante, o significado e o signo, sendo este último considerado a totalidade associativa dos dois primeiros.
Podemos então observar que encontramos no mito o mesmo esquema tridimensional do sistema lingüístico.
Contudo devemos levar em conta que o mito se constrói em função da cadeia semiológica preexistente.
No mito, o signo lingüístico, que é o terceiro termo da tríade, se transforma em significante, ou seja, ele assume o lugar do primeiro termo lingüístico.

terça-feira, 20 de abril de 2010

O que é mito?

O mito é uma forma de narrativa, na qual a sociedade imprime suas inquietações, reflete seus paradoxos, indica seus caminhos.
Os mitos são representações que expressam numa linguagem singular as contradições das relações existenciais. Ele nos fornece um modelo lógico para equacionar nossas contradições.
O mito faz parte da língua. É conhecido pela palavra, pelo discurso.
Por isto o universo mítico está presente na linguagem e além dela. Seu conteúdo é o relato, a história contada; diz respeito a acontecimentos passados, mas forma uma estrutura permanente que lhe permite ultrapassar o tempo.
O mito tem também um sentido histórico na medida em que pode estar situado num tempo determinado e serve para levantar questões sobre as relações sociais. Porém ele transcende a história na medida em que permanece vivo.
Ao contrário da poesia que dificilmente se presta a traduções, o mito preserva o valor do conteúdo do relato em qualquer referência lingüística.
Então podemos dizer que o mito é uma fala. Contudo de uma ordem específica porque comporta uma mensagem, funcionando como um sistema de comunicação, uma forma de significação, mas que não se define pelo objeto da sua mensagem, e sim pela forma como a enuncia.
Pode apresentar-se sob diversas formas não orais que servem de suporte a sua estrutura. Como a imagem, por exemplo, que é imperativa quando comparada com a escrita; impõe a significação de uma só vez sem necessidade de análise.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Tabu e poder

Há no tabu uma tensão ambivalente que torna especial o contato, a aproximação com ele. As formações culturais fundamentam-se em sentimentos que envolvem ao mesmo tempo impulsos egoístas e eróticos, de afirmação e de disputa de poder.
A instituição do tabu e os ritos de reparação que o acompanham são peças de um jogo onde se estruturam as complexas relações que se movem no âmbito social.
O tabu protege o que na ordem social parece inefável e que adquire expressão através das interdições, das restrições impostas pela cultura.
Contradição e poder coabitam o mesmo espaço na cultura. O tabu resguarda o lugar do poder, reveste-o de magia, torna-o sacro e, assim, naturaliza-o. Forma eficaz de mistificar e camuflar sua abrangência ideológica e política.
No limiar desse jogo o poder garante sua potência: força que advém do inapreensível. Advertido sobre a natureza impura do sagrado, o homem se apercebe dos perigos envoltos nas tentativas de proximidade física que se dão numa zona onde nada é dado como certo.
Por isso o homem tateia o contato com cuidadosas reverências e produz rituais para realizar essa aproximação. Mas se o poder envolve riscos e perigos, é melhor se afastar dele e manter uma distância respeitosa. Eis o véu de mistério do sagrado.
O que é poder senão a expressão e o uso de uma força de algum modo autorizada pelo coletivo?
Entendido como um dispositivo de controle cultural, quando observamos a aparição de um tabu notamos que esta se dá por meio da crença supersticiosa na histórica contada, no causo, na lenda carregada de magnetismo lingüístico que recobre o tabu de poder mítico.