segunda-feira, 20 de agosto de 2012

No início... o susto!

Era domingo, eu estava trabalhando, sentia-me envolvida pelas leituras que andava realizando para escrever um projeto que deveria apresentar em breve. Ensaiava colocar as ideias na tela quando o telefone tocou. Era a coordenadora do núcleo de psicologia do qual eu fazia parte. Ela me pedia para realizar o estudo de um caso.

Tentei me esquivar. Falei da dedicação que me estava exigindo escrever o projeto, mas ela contestou dizendo que todos estavam assoberbados. Além do mais o juiz havia pedido que eu assumisse o caso. Tentei questionar trazendo à tona nossas antigas discussões sobre a tarefa impossível de atender às inúmeras demandas dele, cujo estilo dinâmico nos impulsionava a agir em muitas direções.

Não teve jeito, ela foi irredutível:

- Amanhã cedo você vai ao Padre Severino. O estudo deve estar concluído na terça-feira. Ele quer realizar uma audiência imediata.

Na verdade senti muito medo. O que esperavam de mim? Um sentimento arcaico de temor teimava em se apoderar do meu pensamento, povoando minha imaginação com fantasmagorias...

Como seria e como se comportaria a criatura ‘desnaturada’ da qual teria que extrair algo de verossímil sobre sua humanidade?

Duvidei se poderia realizar um estudo em tempo tão exíguo. Mas não ousei negligenciar a determinação. No dia seguinte estava eu, armada com meu medo e minha solidão, a caminho do Instituto.

A diretora me aguardava e logo liberou dois jovens para que pudesse entrevistá-los. Mais tarde chegariam os pais e eu aproveitaria a oportunidade para entrevistá-los também.

Apesar da aparência decadente e precária das instalações, o Instituto mantinha uma estrutura mínima: as oficinas, a escola, os atendimentos, tudo funcionava em estado de espera... Definições políticas que nunca enfim chegariam. Eu pensava que aquela realidade penosa, a qual já estava acostumada, era o fundo do poço. Não podia imaginar o quanto ainda ela iria descer...

Naquela época, eu realizava uma pesquisa sobre a reincidência infracional. Investigava as implicações psíquicas nos atos de repetição. Fazia pouco mais de um ano que abrira o campo de pesquisa nas escolas destinadas a jovens infratores. O que me deixava muito atenta aos acontecimentos que se desenrolavam no cotidiano dessas escolas.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Apresentação do tema

Realizarei uma série de postagens, todas referidas a um caso institucional, que ilustra o que aqui chamo ‘clínica da violência’, no qual atuei e sobre o qual me detive em estudo quando trabalhei na Segunda Vara da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro.