segunda-feira, 11 de março de 2013

O contexto sócio-educativo da internação


 Inaugurada em outubro de 1928, um ano após ter sido aprovado o primeiro Código de Menores a vigorar na América Latina, a escola João Luiz Alves surgiu da necessidade de se desanexar o reformatório da Escola Quinze de Novembro que fora transferido e instalado na Ilha do Governador. 
            O espaço físico da João Luiz Alves era privilegiado, uma quinta enorme, num local aprazível, cuja finalidade era servir como colônia de férias. Prédio bonito, cheio de compartimentos envidraçados, difícil de ser vigiado, com diversos pontos vulneráveis, sugestivos a ocorrências de fugas (o ginásio, o auditório, a enfermaria, a unidade profissionalizante, o canto da disciplina, o galpão).
Os adolescentes gostavam da escola, chamada por eles de Mansão. Os monitores e os professores eram os mais importantes na convivência direta com os jovens porque, quando conquistavam a confiança deles, preservavam o fluxo de afetividade. Alguns se tornavam mesmo modelar e favoreciam o processo de identificação do jovem.
A passagem do atendimento da esfera federal para a estadual foi pautada na preocupação em não romper as estruturas já estabelecidas. Caracterizaram-na como gradual. Acompanharia a renovação de pessoal que deveria ocorrer no prazo de um ano. O esquema parecia bem calculado, como se as boas intenções pudessem superar todas as dificuldades impostas pela realidade.
            Logo no início ocorreu a polarização ideológica sintetizada na ideia de que os funcionários estaduais representavam o novo, uma nova filosofia de trabalho, e os federais representavam o velho, a experiência que deveria ser superada.
            Vencer a rotina era o maior desafio. 
Como eram recebidas as mudanças pela comunidade de internos? O aluno em geral é incisivo nas suas cobranças, algumas tão básicas quanto necessárias. É também muito desconfiado, nunca conquistou nada fácil, nem em casa nem na rua, a forma como aprendeu a conquistar as coisas foi no grito, na força bruta. A desconfiança é antes de tudo uma forma de sobrevivência.  
            Diante das circunstâncias instáveis que imperavam naqueles dias, as relações foram se deteriorando. Os alunos iniciaram uma série de fugas. Chegaram a exageros nas suas cobranças. Como conter os excessos era a questão que se impunha aos novos funcionários. Situação que incitou muitas revoltas e gerou um ciclo de violências incontidas.
Os conflitos se acirraram em todos os níveis: entre equipes dirigentes que rivalizavam dentro das escolas; entre políticos que estavam na arrancada derradeira para garantir suas posições no jogo político, em um ano de eleições; entre adolescentes, entre estes e a administração escolar.
Todos se aproveitaram das circunstâncias para consolidar posições nos diferentes campos em que estavam implicados.