segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O tesouro dos significantes

A língua é, antes de tudo, uma convenção que expressa o acordo comunal cristalizado em signos, os quais são símbolos da união entre o sentido e a imagem verbal que o indivíduo registra em seu processo de inserção linguística, que é a forma como se realiza a imersão na cultura.

Tanto filósofos quanto linguistas concordam que sem os signos não seria possível distinguir duas idéias de modo claro e constante.

Porque o pensamento, essa massa amorfa em que nada se apresenta delimitado, precisa da matéria fônica para moldar a plasticidade dos significantes e o jogo das diferenças entre eles, marca de toda e qualquer língua.

O significante, de natureza auditiva, se desenvolve no tempo. Representa uma extensão mensurável, como uma linha horizontal, na qual seus elementos se apresentam um após o outro formando um encadeamento chamado de cadeia dos significantes.

O significante não exige vinculação natural com a ideia que expressa. Este é o caráter arbitrário do signo defendido por Saussure.

Mas a liberdade entre símbolo e ideia não acontece no que diz respeito à comunidade que utiliza o significante.

A este fato, de o significante ter natureza impositiva quanto ao uso, Saussure chama de carta forçada.

A língua se situa no tempo e a isto se deve seu caráter de fixidez.

De modo que a solidariedade com o passado põe em xeque a liberdade de escolha.

Vemos aqui a relação intrínseca que existe entre dois fatores antinômicos: a convenção arbitrária, em nome da qual a escolha se faz livre e, o tempo, graças ao qual a escolha se mantém fixada.

O tempo, que assegura a continuidade da língua, tem também o efeito de alterar os signos linguísticos.

Mas em toda possibilidade de alteração domina a persistência do velho.

Daí porque se diz que o princípio de alteração se baseia no princípio de continuidade.

A mixagem desses fatores – alteração e continuidade – produz tal deslocamento da relação entre significado e significante, cujo efeito se reflete no fato de que a língua se transforma sem que os indivíduos possam transformá-la.

Estruturada tal uma sinfonia, cuja realidade independe da maneira como é tocada, a língua se impõe do exterior sem admissão de interferências.

Capturado na malha deste sistema, o indivíduo, em troca, é feito portador do tesouro da língua.

Lócus virtual em que a língua adquire expressão coletiva e completa.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A importância de Lévi-Strauss

A produção de Lévi-Strauss guarda um traço familiar que merece ser reconhecido. Ele provém de uma família constituída de músicos, cuja influencia transparece nitidamente em seu olhar inspirado no modelo das partituras musicais - o gosto pelas sínteses teóricas e pela escrita rigorosa.

A exemplo do que se realiza na música, Lévi-Strauss considerava ser preciso apreender a linguagem da estrutura.

O que é a partitura senão o esqueleto, a estrutura da composição musical?

Extraiu de Karl Marx a ideia de que as realidades manifestas são enganosas e que compete ao estudioso construir modelos para ter acesso aos fundamentos do real como forma de ultrapassar a realidade sensível.

Trazemos aqui a proposição de Marx também para acentuar que a tese estrutural sempre existiu. O método estruturalista já se encontrava em Marx.

A base de formação de Lévi-Strauss se deu na Alemanha. Sob a influência de Franz Boas, percebeu e valorizou a natureza inconsciente dos fenômenos culturais e colocou as leis da linguagem no centro da estrutura inconsciente.

É neste terreno que se situa sua maior inovação, qual seja: transpor o modelo linguístico para o campo da antropologia.

A linguística estrutural foi o modelo de que se serviu e Roman Jakobson, o nome relevante com quem estabeleceu contato. Dessa proximidade, Lévi-Strauss valorizou dois princípios muito importantes: a investigação de invariantes e a preponderância dos fenômenos inconscientes da estrutura.

Com a proibição do incesto, Lévi-Strauss se viu frente ao protótipo da lei - a invariância – que era o que mais perseguia.

Realizou um deslocamento em relação à abordagem tradicional, a qual entendia o fenômeno em termos de interdições morais. Era essa a concepção de Morgan, para quem a proibição do incesto consistia numa proteção da espécie contra os efeitos funestos dos casamentos consanguíneos.

A hipótese de Lévi-Strauss, ao contrário, acentua o caráter de transação presente na proibição dos casamentos consanguíneos, da comunicação que se instaura, para além da mesma tribo, com a aliança do matrimônio.

A proibição do incesto, base da aliança comunal, passou a ser concebida como decisiva no surgimento da ordem social. É neste sentido, inclusive, que se pode dizer que a proibição do incesto consiste na própria cultura.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O estruturalismo na França

 A linguística francesa sobressai pelo seu atraso. Somente em 1956, Greimas publica um artigo em que mostra que a linguística estava sendo valorizada em diferentes domínios: por Merleau-Ponty na filosofia, por Lévi-Strauss na antropologia, por Barthes na literatura e por Lacan na psicanálise.

Era o momento auge do estruturalismo. Mas nada acontecia na lingüística francesa. Por esta razão, Greimas propôs o retorno a Saussure, centrado na semiologia, definida por este como a ciência que estuda a vida dos signos no social.

O estruturalismo surgiu na França como retomada intelectual, cujo veio de impulsão se deu nos anos cinquenta e sessenta.

Movimento que significou uma tomada de posição por parte de intelectuais descontentes com a cultura ocidental, e que estavam em busca de novos modelos para pensar a realidade social.

Intelectuais que desprezavam o engajamento político e almejavam ultrapassar o conhecimento acadêmico dominante.

Naquele momento, o estruturalismo representava o novo que se impunha ao antigo. Mas, a partir do retorno a pensadores que haviam sido abandonados no pós-guerra.