quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Sadismo / masoquismo

O sadismo se relaciona ao desejo de infligir dor, de subjugar; implica no exercício da violência para vencer a resistência do objeto. Em contrapartida, o masoquismo diz respeito à atividade passiva da pulsão em relação à vida sexual e ao objeto sexual.
O mecanismo presente nesse par antitético percorre os seguintes movimentos: há um primeiro momento de exercício de poder sobre outrem, forma ativa do movimento; ao qual se segue um segundo momento de abandono desse objeto acompanhado de um retorno da libido para o próprio eu (forma passiva); e um terceito momento em que uma outra pessoa é introduzida nesse circuito para exercer o papel ativo de agente da violência. Eis aqui a descrição sobre a transformação da pulsão sádica em masoquista.
Acerca da excitação sexual presente na dor, Freud nos diz em As pulsões e seus destinos:
“(...) temos todos os motivos para aceitar que as sensações de dor, assim como outras sensações desagradáveis, beiram a excitação sexual e produzem uma condição agradável, em nome da qual o sujeito, inclusive, experimentará de boa vontade o desprazer da dor. Uma vez que sentir dor se transforme numa finalidade masoquista, a finalidade sádica de causar dor também pode surgir, retrogressivamente, pois, enquanto essas dores estão sendo infligidas a outras pessoas, são fruídas masoquisticamente pelo sujeito através da identificação dele com o objeto sofredor(...)

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Olhar / ser olhado

A excitação libidinal freqüentemente é despertada pela visão. Excitação cuja finalidade é olhar e ser olhado. O prazer de olhar, chamado escopofilia, tem como par antitético o prazer de ser olhado, que se expressa como prazer de exibir-se para outrem.
Este par antitético, de duas pulsões componentes, nos ajuda a compreender o processo de retorno da pulsão em direção ao eu, constituindo a mudança de seu objeto, mas deixando inalterado o seu objetivo, que consiste em obter satisfação através do olhar.
No prazer de olhar, o objeto é o outro, ao passo que no prazer de ser olhado, o sujeito, ele mesmo, se elege como objeto diante do outro.
Como se dá esse retorno da pulsão? No primeiro momento, o olhar é uma atividade, cuja força ativa se volta para um objeto, um outro sujeito. Esse momento é seguido de um segundo movimento de abandono desse objeto e de retorno do olhar para o próprio corpo, forma passiva que assume olhar, que em seguida finaliza seu movimento, com a introdução de outra pessoa para quem o indivíduo se exibe.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

A força pulsional – Drang

A força pulsional adquire múltiplas formas e por isso deve ser compreendida por sua característica plural, que pressupõe uma permanente dualidade antitética entre pares pulsionais.
Essa idéia de oposição entre pares, marca fundamental do pensamento freudiano, remete-nos ao processo em que uma pulsão se reverte em seu oposto. Processo que implica a passagem da atividade para a passividade e vice versa.
Mas não se pode esquecer que toda pulsão por princípio é ativa, pois que a essência do significado do termo se encontra na força ativa – drang – que em si caracteriza a dinâmica pulsional.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Pulsão

O termo pulsão designa, genericamente, o ato de impulsionar. A psicanálise o emprega para definir a carga energética que se encontra tanto na origem do movimento motor quanto do funcionamento psíquico. Por isto diz-se que a pulsão se encontra no limiar entre o somático e o psíquico.
Freud começou a empregar o termo em 1905 nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Texto que gira em torno do tema da pulsão sexual e os caminhos que ela percorre na busca de satisfação.
A pulsão age como uma força [drang] constante que emana de uma fonte somática [quelle] sediada num órgão ou parte do corpo.
O estímulo pulsional se faz representar no inconsciente por uma idéia [vorstellung], ou por um afeto [affekt]. O termo vorstellung implica a idéia de que uma representação foi inscrita no sistema mnêmico, ao passo que affekt se refere ao registro psíquico que expressa de modo qualitativo a quantidade de energia pulsional.
A pulsão é da ordem da necessidade. Como um motor, ela imprime um quantum de força pressionando no sentido da sua finalidade, de seu objetivo, que é a sua satisfação, definida esta como a redução da tensão provocada pela drang.
Lacan nos lembra o caráter parcial da pulsão e de sua satisfação. Seu alvo consiste num retorno em circuito. A tensão é um fecho que circunda a zona erógena.
É mediada por um objeto que a pulsão atinge sua finalidade. Esse objeto de caráter transitório e variável pode ou não ser estranho ao próprio corpo. O objeto pulsional e a satisfação, ambos, são provisórios, pois que a satisfação nunca se completa, assim como o objeto queda sempre inadequado para atingir a plena satisfação.
O objeto de que se trata aqui é nada mais que um cavo, um vazio, em se coloca não importa que objeto, cuja natureza nós só podemos conhecer sob a forma de objeto perdido.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Amor e autoridade

Na primeira parte dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, Freud aborda a supervalorização do objeto sexual. Apreciação que se estende por todo o corpo e atributos psicológicos. Enfim, a tudo que se associe a esse objeto amado.
A supervalorização, típica do envolvimento amoroso, contém certo grau de fetichismo. Na constituição dessa percepção parcial, entorpecida de apreciação, sobressaem os elementos reveladores das perfeições do ser amado, terreno preparado para frutificar a experiência da mais plena submissão.
A credulidade de amor é uma das mais importantes fontes de autoridade.
No que consiste a essência da fixação que preserva a fiel submissão de alguém a outrem?
Freud empregou a hipnose nos primórdios de seu interesse pela histeria, e foi o primeiro a examinar e problematizar a relação de submissão que se estabelece entre o hipnotizado e o hipnotizador.
A atmosfera monótona e mecânica que prevalece como condição do transe hipnótico evoca a magia. Durante o transe o paciente se prontifica a mais incondicional entrega à passividade e absoluta obediência ao hipnotizador. Por isto nos interrogamos sobre a natureza misteriosa da autoridade sugestiva.
A constatação a que chegamos é que só há um tipo de hipnose: aquela que coloca em suspenso as faculdades propriamente humanas, e abre caminho para aflorar a animalidade no homem.
Nas próximas postagens abordarei alguns aspectos contidos no conceito de pulsão.