Inaugurada em outubro de 1928, um ano após ter sido
aprovado o primeiro Código de Menores
a vigorar na América Latina, a escola João Luiz Alves surgiu da necessidade de
se desanexar o reformatório da Escola
Quinze de Novembro que fora transferido e instalado na Ilha do Governador.
O espaço físico da João Luiz Alves era privilegiado, uma
quinta enorme, num local aprazível, cuja finalidade era servir como colônia de
férias. Prédio bonito, cheio de compartimentos envidraçados, difícil de ser
vigiado, com diversos pontos vulneráveis, sugestivos a ocorrências de fugas (o
ginásio, o auditório, a enfermaria, a unidade profissionalizante, o canto da
disciplina, o galpão).
Os
adolescentes gostavam da escola,
chamada por eles de Mansão. Os
monitores e os professores eram os mais importantes na convivência direta com os
jovens porque, quando conquistavam a confiança deles, preservavam o fluxo de
afetividade. Alguns se tornavam mesmo modelar e favoreciam o processo de
identificação do jovem.
A passagem
do atendimento da esfera federal para a estadual foi pautada na preocupação em
não romper as estruturas já estabelecidas. Caracterizaram-na como gradual. Acompanharia
a renovação de pessoal que deveria ocorrer no prazo de um ano. O esquema parecia
bem calculado, como se as boas intenções pudessem superar todas as dificuldades
impostas pela realidade.
Logo no início ocorreu a polarização ideológica
sintetizada na ideia de que os funcionários estaduais representavam o novo, uma
nova filosofia de trabalho, e os federais representavam o velho, a experiência
que deveria ser superada.
Vencer a rotina era o maior desafio.
Como eram recebidas
as mudanças pela comunidade de
internos? O aluno em geral é incisivo nas suas cobranças, algumas tão básicas
quanto necessárias. É também muito desconfiado, nunca conquistou nada fácil, nem
em casa nem na rua, a forma como aprendeu a conquistar as coisas foi no grito,
na força bruta. A desconfiança é antes de tudo uma forma de sobrevivência.
Diante das circunstâncias instáveis que imperavam
naqueles dias, as relações foram se deteriorando. Os alunos iniciaram uma série
de fugas. Chegaram a exageros nas suas cobranças. Como conter os excessos era a
questão que se impunha aos novos funcionários. Situação que incitou muitas revoltas
e gerou um ciclo de violências incontidas.
Os conflitos se
acirraram em todos os níveis: entre equipes dirigentes que rivalizavam dentro
das escolas; entre políticos que estavam na arrancada derradeira para garantir
suas posições no jogo político, em um ano de eleições; entre adolescentes,
entre estes e a administração escolar.
Todos se aproveitaram
das circunstâncias para consolidar posições nos diferentes campos em que
estavam implicados.