quarta-feira, 14 de maio de 2008

Filosofando IV – O olhar de Walter Benjamin (1892 - 1940)

O pensamento de Benjamin é anárquico em sua constituição estrutural. Ele se distancia do ideal acadêmico, porque não se oferece pronto para ser digerido, ainda que seu porto seja o cotidiano, isto é, nas questões que têm origem no mundo ordinário do dia a dia. É neste ponto que situamos sua fonte de inspiração.

No seu estilo literário, os assuntos cotidianos aparecem esfacelados, como estampas desordenadas que encenam uma filosofia em aparente estilhaçamento, como rápidas visadas sobre um mundo de sons e imagens.

A mobilidade cinematográfica de seu olhar engendra um movimento no qual os fenômenos da vida cotidiana são desnudados como cenas fragmentadas e aparentemente fugazes. Interesse semelhante ao que se constata nos textos de Freud sobre a Psicopatologia da vida cotidiana.

Nessa forma muito própria, poderíamos dizer benjaminiana, de apreensão da vida privada, o olhar estético do cineasta se soma ao olhar clínico do psicanalista para dar atenção aos mais variados assuntos considerados irrelevantes. Como a moda, os livros infantis, os brinquedos, a propaganda, os jogos, os estilos dos espelhos, a fotografia, o comportamento das prostitutas...

A singularidade de Benjamin se sustenta na síntese que promove entre um olhar anacrônico, nostálgico, místico, voltado para o passado, que convive com o olhar que avança profeticamente para além de seu tempo na busca de apreender o movimento da sociedade e da história.

Sua obra denuncia a sociedade em que vivemos, fadada à repetição automática da mesmice disfarçada em novidade mercadológica. Ao desvelar a realidade, Benjamin valoriza a dupla potencialidade da linguagem, dada, de um lado, pela sensibilidade e, de outro, pela razão.

Para Benjamin cada situação fala por si mesma. Mostra sua forma de existência, e nesta exposição revela algo que a transcende. Isto se dá porque o particular para ele sempre comporta uma dimensão alegórica. O olhar alegórico nunca encerra um sentido único e universal, mas sim uma pluralidade deles. Essa liberdade de sentidos promovida pela multiplicidade aponta para uma ausência de sentido. Ausência triste, que vive em luto, e dá origem ao lúdico. Lúdico e luto, pluralidade e ausência, oposições que se mesclam, se fundem. Na linguagem alegórica de Benjamin, a imagem emerge da fusão dessas duas fontes antagônicas. A alegoria é fruto do acasalamento entre eterno e efêmero, continuidade e ruptura. Inspiração que brota do desejo de eternidade em confronto com o saber sobre o caráter precário da existência.

Na próxima postagem vou trazer um pequenino texto de Benjamin para que possamos ter contato com sua escrita sensível, com o charme acolhedor de seu estilo literário.

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