sexta-feira, 30 de maio de 2008

O isolamento do homem contemporâneo

A constatação do isolamento crescente do homem ao longo da história da civilização foi objeto de estudo realizado pelo sociólogo Norbert Elias e apresentado em seu livro A sociedade dos indivíduos, no qual Elias discute o isolamento enquanto uma forma de habitus cultivado pelo homem contemporâneo.
Ao discutir sobre a complexa estruturação das relações no mundo atual, Elias observa que a formação do habitus se deve ao arraigamento do indivíduo a formas primitivas de organização – nós - por ele vividas.
Aliando-se à visão freudiana da vida comunal totêmica, Elias encontra fundamento para pensar a fusão do eu com o nós primitivo e, desse modo, anti-naturaliza a percepção do isolamento em que se aprisiona o indivíduo contemporâneo.
A partir de Descartes, considera Elias, houve um peso crescente na balança nós-eu, pendendo para o lado do eu. A concentração máxima desse peso - do isolamento do indivíduo como estátua pensante em relação aos outros e ao mundo – se solidifica no período pós-guerra.
Na atualidade, o indivíduo tem que contar com ele mesmo para decidir sobre a forma de seus relacionamentos. A grande permutabilidade relacional exige por parte dele maior autocontrole e menor espontaneidade nos atos e no discurso.
Mas o habitus característico de nossos dias, que empresta ênfase ao eu, não anula o impulso humano para a afeição e a espontaneidade nos relacionamentos, nem extingue o desejo de segurança e constância dos afetos nas relações. A gama de diferenciação entre os indivíduos porta a diversidade e a variabilidade das relações pessoais. Nestas se pode notar o anseio por calor, por ter afirmada a afeição dos outros, embora haja uma incapacidade de proporcionar afeição espontânea.
Com isto Elias quer dizer que os relacionamentos, tal como sucedem nos dias correntes, não sufocam o desejo de dar e receber calor, nem o desejo de compromisso nas relações. Mas sufocam a capacidade do indivíduo para dá-los ou recebê-los.

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