segunda-feira, 8 de junho de 2009

O valor da confissão

Face às dificuldades inerentes à atribuição de responsabilidade, a psicanálise pode contribuir de forma esclarecedora, pois no diálogo analítico, movimento em cuja atmosfera se radicaliza a potencialidade da interlocução, emerge a confissão do sujeito.
Poderosa chave na revelação das verdades da intenção, a confissão iguala em peso, as noções de pecado, culpa, responsabilidade e castigo.
Enquanto objeto de prova da responsabilidade do sujeito, a confissão encontra força no âmbito tensional em que essas noções ressoam como pressões da cultura.
Mas numa sociedade como a que presenciamos hoje em que essas noções são como moedas que circulam no câmbio moral mais por tradição que por seu valor real de troca, que importância se pode atribuir ainda a confissão do sujeito?

O valor da confissão é retomado quando ela se coloca em ação, como prova técnica, no sítio efervescente das verdades inconciliáveis que domina o cenário do julgamento; quando ela evidencia os motivos e torna compreensíveis os móbeis do crime.
Contudo, mais do que ninguém o psicanalista conhece as armadilhas do eu confesso, lugar privilegiado da denegação. Sabe que a sinceridade é o primeiro obstáculo com que se depara alguém empenhado em seguir o rastro da intencionalidade, pois na manifestação da fala se encontra o intuito de apagá-la. Eis o ponto em que se tece a complexidade da confissão.

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