Nietzsche rompeu com a relação que existia entre a teoria do conhecimento e a teologia. Considera que é preciso desdivinizar a natureza. Em oposição a Spinoza, para quem para se conhecer as coisas do mundo em sua verdade é necessário apaziguar as paixões, Nietzsche insiste na idéia de que compreender implica um jogo; uma luta entre as paixões rir, deplorar e detestar. Paixões que têm em comum a capacidade de conservar o objeto à distância. Através do riso nos protegemos do objeto, na deploração nós o desvalorizamos e, com o ódio o afastamos ainda mais. Para Nietzsche, não há unidade ou apaziguamento possível. No processo de conhecer há apenas confronto. Em relação ao objeto a conhecer, há dominação. Nietzsche não acredita no conhecimento em si. Não existem condições universais para o conhecimento, porque ele se traduz no resultado histórico de condições que não são da ordem do conhecimento. Nietzsche ressalta o caráter perspectivo do conhecimento. Assim ele valoriza a relação estratégica na qual o homem se encontra posicionado, de onde resulta a parcialidade do conhecimento. Mas não deixa de haver sempre uma batalha singular entre a natureza particular do conhecimento e sua aparência generalizante. Se o conhecimento nos parece geral é porque ele esquematiza, nivela as diferenças, assimila as coisas entre si sem qualquer fundamento de verdade.
Espaço de estímulo à escrita e à troca de idéias entre pessoas interessadas em psicanálise e assuntos conexos.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Deus como garantia do conhecimento
No dogmatismo da idade moderna inaugurado por Descartes, Deus é a garantia do poder se conhecer bem as coisas do mundo. O Discurso do Método constitui a pedra fundamental de uma revolução metodológica que traz conseqüências definitivas para a história do conhecimento. Expressa uma nova mentalidade – racionalista – dando surgimento à filosofia ocidental moderna. O núcleo desta elaboração sobre a razão encontra ressonâncias no sistema filosófico de Sócrates e, particularmente, no pensamento de Platão. Descartes coloca a questão do psiquismo humano no centro do interesse filosófico: exigência de construção de uma nova metodologia na qual o ser pensante torna-se senhor da natureza e de si mesmo. A inovação de Descartes no campo do conhecimento reside na proposição dualística de sua dogmática, que revela a natureza da dualidade do homem, esta formada pela química de duas substâncias independentes – res cogitans e res extensa. A primeira, res cogitans, indestrutível, capacita em superioridade indubitável o pensamento, privilégio exclusivamente humano. Ao passo que res extensa, a matéria, está submetida às leis da necessidade e da dúvida. Na busca do pensamento puro, o cogito vai encontrar a verdade além do mundo físico, e denuncia o fenômeno como pura aparência, ilusão, engano. Vemos aqui do predomínio da razão sobre o dado sensível, do poderio do homem sobre a natureza, da capacidade de dominar-se a si mesmo. A essencialidade incorpórea do espírito, em Descartes, se sustenta na filosofia de Platão: a alma é concebida como essência universal e imortal, detentora da verdade, governa o corpo, e dele se distingue. Portanto, conforme a perspectiva cartesiana, o psíquico funciona independentemente da vida material.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
A invenção do conhecimento
Em Nietzsche, encontramos um discurso potente que nos ajuda a processar a análise histórica da formação do conhecimento. Nietzsche afirma que o conhecimento foi inventado – erfindung. Esse termo alemão utilizado por Nietzsche serve para designar que todas as coisas abstratas com as quais entramos em contato na sociedade, tais como religião, poesia e ideal, não têm uma origem – ursprung. Admitir a origem dessas coisas significa dizer que elas já estavam dadas, que eram preexistentes e, portanto, metafísicas. Essas abstrações foram inventadas, fabricadas por uma série de pequeninos mecanismos. Dizer que o conhecimento foi inventado significa supor que ele não está inscrito na natureza humana. Segundo Nietzsche, o conhecimento está relacionado aos instintos, embora não esteja presente neles. O conhecimento surge como resultado do jogo, efeito de superfície, do embate e do acordo entre os instintos. Envolve riscos e acaso, traduzindo um estado de tensão ou de apaziguamento. Além de não estar ligado à natureza humana, o conhecimento também não está aparentado com o mundo a conhecer. Melhor dizendo, não existe nenhuma afinidade prévia entre o conhecimento e as coisas que seriam necessárias conhecer. Ao contrário, o conhecimento interage, luta contra um mundo sem ordem, sem encadeamento, sem lei, sem harmonia, sem sabedoria.
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