Não havia passado, sequer, três meses, desde a fuga de Marco da
Escola João Luiz Alves, quando ele foi novamente apreendido.
No tempo em que permaneceu solto, o sistema passou por uma grande
reviravolta. Tanto o Padre Severino quanto a João Luiz Alves estavam
com suas instalações imprestáveis àquela altura.
Essas escolas haviam sido praticamente destruídas nas rebeliões de
outubro.
Nada ainda havia sido feito para equacionar o problema, do ponto de
vista da estrutura material das escolas. Mas, o atendimento não
podia parar. O trabalho prosseguia, malgrado a situação de ruína
das escolas.
As autoridades declaravam, nos jornais, a edificação de novos
equipamentos para o sistema.
Previa-se construir entre dez e vinte pequenas escolas, espalhadas
por todo o Estado, aparelhadas para atender cerca de cinquenta
adolescentes.
Nenhuma das promessas noticiadas foi cumprida pelo governo.
As reportagens, da época, se referiam a um projeto de substituição
dos grandes internatos existentes por um modelo institucional chamado
centro de atendimento intensivo, gabaritado com uma estrutura
funcional descentralizada, com capacidade para realizar atendimento
personalizado ao adolescente.
Condição que as equipes técnicas consideravam fundamental para pôr
em prática a filosofia socioeducativa preconizada no Estatuto da
Criança e do Adolescente.
Eu
havia estado recentemente na João Luiz Alves, mais ou menos dois
meses após as rebeliões. Assustou-me ver
os
corredores ainda
às escuras, com entulhos de demolição: pedaços de paus, pedras e
vidros. Todo esse lixo perigoso permanecia amontoado pelos cantos dos
corredores.
A
Comlurb não aparecia para removê-los, diziam os diretores das
escolas. Eles reclamavam que os adolescentes se apropriavam desses
restos para fabricarem armas.
Os
jovens aproveitavam para exercitar a criatividade produzindo estoques
artesanais.
O
ciclo enlouquecido do dia a dia urbano impõe o funcionamento da
máquina a qualquer custo.
O
circuito funcionava, então, no automatismo oficial: os policiais
prendiam, os processos transcorriam dentro dos trâmites legais e os
juízes determinavam a execução das medidas aplicadas.
Enquanto
isso, a Escola João Luiz Alves, nas condições em que se
encontrava, não podia se responsabilizar pela custódia de Marco.
E
o sistema
nada tinha a oferecer como alternativa a processos como esse que
exigiam uma
medida de internação.
Contradições
grotescas de nossa realidade social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário