terça-feira, 1 de julho de 2008

Tensâo entre prazer e realidade

A relação do sujeito com o mundo é tecida conflitivamente nas malhas de um jogo dialético, no qual a organização autônoma do princípio de realidade, como tensão, põe-se a desafiar as formações irrealistas do princípio de prazer.
Em O mal-estar na cultura, Freud afirma que o programa do princípio de prazer - que domina o funcionamento psíquico desde o início – é que decide o propósito da vida. Mas quando uma situação desejada se prolonga por muito tempo, ela produz apenas um tênue sentimento de contentamento, porque derivamos prazer intenso, na verdade, das situações de contraste. E cita Goethe: nada é mais difícil de suportar que uma sucessão de dias belos.
Segundo Freud, o sofrimento nos é infligido a partir de três possibilidades: a primeira diz respeito à condenação a decadência e a morte a que está sujeito nosso corpo, a segunda tem haver com as fatalidades e as forças destrutivas existentes na natureza, e a terceira tem origem nos nossos relacionamentos com os outros homens. Esta é a possibilidade mais penosa de ser vivida. Sob a influência dessas três fontes de sofrimento, o homem modera suas reivindicações de felicidade: o princípio de prazer se transforma no princípio de realidade.
No texto Além do princípio de prazer, Freud diz que a regulação do princípio de prazer consiste na redução de tensão desagradável, levando à evitação de desprazer, ou, à produção de prazer. O desprazer implica o aumento de excitação, enquanto o prazer implica a diminuição da excitação.
O princípio de prazer é próprio do modo primário de funcionamento psíquico. Mas os dois princípios: de prazer e de realidade não são estanques um do outro. Eles se implicam e se incluem um ao outro numa relação dialética.
Como o princípio de realidade se constitui pelo que é imposto, para a sua satisfação, ao princípio de prazer, pode-se dizer que ele é o prolongamento deste. Contudo, precisa ter-se em mente uma ressalva: o princípio de realidade é tão importante para o programa do princípio de prazer que consiste mesmo em sua dinâmica, busca e tensão fundamentais. No entre desses dois princípios, localiza-se uma hiância que não se poderia distinguir caso um fosse apenas continuação do outro.

Um comentário:

Gustavo Moura Brasil disse...

Freud está certo...
A vida feita somente de momentos felizes torna-se repetitiva e contínua, buscariamos a tristeza para atingirmos outros sentimentos como decepção e sofrimento. Portanto, temos que sofrer para depois sorrir ou aproveitar pra sorrir pois uma hora ou outra iremos chorar.