segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O lugar do papa

O reconhecimento do papa enuncia uma representação simbólica fundamental: o seu lugar é determinado de modo textualmente normativo e preserva a autenticidade da representação de Outro, ausente, em nome de quem o pontífice se pronuncia.
Ele é o transmissor da Lei, o senhor da doutrina, o mantenedor da chave que abre as portas da mística.
É apresentado pelos dogmáticos como o escravo que recebeu a missão de representar seu mestre ausente, e administrar seus negócios.
A lógica católica dividiu a sociedade em dois mundos: o mundo do clero e o mundo leigo. Essa lógica se assentou no interdito máximo: a castidade. Norma que particulariza o lugar do sacerdócio.
Na escala vertical da hierarquia que divide o mundo entre puros e impuros, o papa desponta como o primeiríssimo da primeira ordem.
Ele representa a síntese de uma antinomia: a onipotência e a privação sexual. Ele é o pai, portador do falo, mas está impedido de atualizar a potência sexual.
Desapossado de seus desejos em nome da tarefa de pastor, o pontífice se coloca como um servo do supremo sacerdócio, e transforma a si mesmo na primeira vítima da regra. Deve se subjugar para submeter a todos.
Como principal intérprete do texto canônico, sua mestria é a transmissão do subjugar. Mas ele não é nada mais que o representante do Outro, o Inspirador.

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