segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Como podemos nos acercar da verdade?

No início do prólogo de Além do bem e do mal, Nietzsche nos diz:
“Suponho que a verdade seja uma mulher – não seria bem fundada a suspeita de que todos os filósofos, na medida em que foram dogmáticos, entenderam pouco de mulheres? De que a terrível seriedade, a desajeitada insistência com que até agora se aproximaram da verdade, foram inábeis e impróprios para conquistar uma dama? É certo que ela não se deixou conquistar – e hoje toda espécie de dogmatismo está de braços cruzados, triste e sem ânimo. Se é que ainda está de pé! Pois há os zombadores que afirmam que caiu, que todo dogmatismo está no chão, ou mesmo que está nas últimas".
Nietzsche critica toda forma de dogmatismo: filosófico, científico, religioso. O dogmatismo é a fonte de todo preconceito e censura; é a barreira que se interpõe entre o homem e o objeto a conhecer.
O dogma não é o sítio onde a verdade adormecida deve ser despertada, mas algo que aprisiona e amortece as investidas de um possível conquistador.
Nietzsche profetiza os dias contados dos dogmatismos que perpetuam a fundação de verdades absolutas e atemporais: do altar da igreja à corte do tribunal de justiça.
A verdade petrificada em dogma, ilusionista, convida-nos a dançar em círculos repetitivos em torno da seriedade ritualística; apela ao engano e confunde. Faz-nos acreditar que o domínio, advindo da fé na autoridade, na posse, na técnica, conduz à aproximação do objeto a conhecer.
De todo modo, toda vontade de verdade é vontade de poder. Em torno desta máxima, podemos entender o surgimento das verdades que os dogmatismos de toda ordem fazem questão de nos servir em bandejas previamente preparadas. A vontade de domínio precisa fazer do desejo de saber seu escravo.
Os mecanismos lógicos de controle da descoberta da verdade deflagraram o aparecimento de modalidades de exame, responsáveis por qualificar e classificar as condutas conforme a necessidade de controle disciplinar.
A disciplina impõe uma permanente visibilidade que deixa às claras a superposição de poder e saber, determinando as partidas no jogo lingüístico dos interrogatórios.
Em vigiar e Punir, Foucault explora o exame como um tipo de dispositivo disciplinar, que ritualiza a cerimônia do poder e a instituição da verdade; mecanismo que une saber e exercício do poder.
Poder este que flagra e captura os subalternos para aprisioná-los numa rede de objetivação e visibilidade.
Mas esse aprisionamento está longe de ser facilmente perceptível. Trata-se de uma armadilha sutil, engatilhada no âmago do amor e do desejo. Envolve a socialização disciplinar do amor ao poder e à autoridade; disciplina de submissão do desejo como dom de amor; técnica de transmissão de um fazer-crer como esteio de funcionamento das instituições.

Nenhum comentário: