Apesar das mudanças ocorridas na sociedade brasileira desde a abolição da escravatura, carregamos ainda hoje o peso de nossa origem histórica: de ter sido uma colônia que desenvolveu a vocação para o trabalho agrícola como forma de servir à coroa portuguesa. Em Casa grande e senzala, Gilberto Freire retrata a família rural como a principal unidade produtiva e de controle com que contou o colonizador. Numa época em que eram trazidas nações africanas praticamente inteiras para o Brasil, o senhor do engenho, um patriarca com poderes feudais, foi quem sustentou e aqueceu esse comércio indecoroso, mantendo sobre férreo controle seu direito de propriedade sobre os negros feitos escravos. Funcionando muito além do papel de produtor em franca expansão, o senhor do engenho pôde impor e disseminar a visão do colonizador. Os senhores do engenho formaram o núcleo da elite política. E contra essa autoridade privada, a impessoalidade do estado era praticamente nula, tanto quanto inócuo era o poder da igreja. Porque na verdade, o aparato do estado, a igreja e a aristocracia rural eram aliados. Formavam a elite que contava como importante para as decisões sobre os rumos que seriam tomados.
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