terça-feira, 25 de novembro de 2008

O adoecimento no campo de investigação

Ao desenvolver atividade de investigação, muitas vezes, o policial é convocado a se infiltrar num ambiente marginal, a assumir outro nome, outra identidade social. Atividade que costuma desempenhar com fronteiras aparentemente nítidas.
Tal como um alcoólatra que jura ter controle sobre a bebida, a divisão que nele toma corpo pode atenuar ou até mesmo apagar os limites que ele supõe dominar entre realidade e falsa identidade. E, não raro, o bom policial, aquele considerado ban-ban-ban no campo, queda psiquicamente adoecido.
Mas somente quando alguma coisa de muito grave acontece pessoalmente com o policial, algo que o toca verdadeiramente, como situações de alto risco em que poderia ter perdido a vida, ele começa a se distinguir de seu papel, a se distanciar da máscara que construiu no desempenho de seu trabalho.
Como se o fato incontornável que viveu tivesse tido sobre ele o efeito de paralisá-lo e lançá-lo fora da percepção cronificada que compartilhava no campo, para, então, poder se perceber sobre outro prisma. Em exercício, este policial se sente discriminado e passa a ser considerado inadaptado pelos colegas.
Esse processo de deslocamento e de diferenciação que sofre o policial, permite-lhe compreender as loucuras em que estava envolvido em seu cego exercício, e passa a duvidar das crenças do campo, passa a duvidar das certezas que compartilhou com os colegas.
É esse distanciamento que pode permitir ao policial discernir algo do seu próprio adoecimento. Primeiro passo para a sua busca de ajuda e conscientização de seu sofrimento emocional.

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